Você sabia que existe uma sonda espacial que está há mais de 23 bilhões de quilômetros da Terra, muito além da órbita de Plutão? Ela se chama Voyager 1 e é o objeto mais distante de seu planeta natal feito pelo homem. Lançada em 1977, ela foi a primeira a explorar os planetas gigantes do Sistema Solar, como Júpiter e Saturno, e a sair da bolha do vento solar, entrando no espaço interestelar. Mas o que ela está fazendo lá fora? E por que ela começou a enviar dados bizarros para a NASA?
Uma viagem sem volta.
A Voyager 1 faz parte de um programa da NASA que enviou duas sondas gêmeas, a Voyager 1 e a Voyager 2, para estudar os planetas externos do Sistema Solar. As duas sondas aproveitaram um raro alinhamento planetário que ocorre a cada 175 anos e que permitiu que elas usassem a gravidade dos planetas para acelerar e mudar de direção, economizando tempo e combustível. Esse fenômeno é chamado de assistência gravitacional e foi usado pela primeira vez pela sonda Mariner 10, que visitou Mercúrio e Vênus na década de 1970. A Voyager 1 foi lançada em 5 de setembro de 1977, 16 dias depois da Voyager 2, mas chegou primeiro a Júpiter, em março de 1979. Lá, ela fez descobertas incríveis, como a existência de vulcões ativos na lua Io, os anéis finos ao redor do planeta e as tempestades gigantescas em sua atmosfera. Em novembro de 1980, ela chegou a Saturno, onde observou a complexidade dos anéis do planeta, as luas geladas como Encélado e Titã e o misterioso hexágono no polo norte. Depois de Saturno, a Voyager 1 seguiu em uma trajetória que a levou para fora do plano do Sistema Solar, enquanto a Voyager 2 continuou sua jornada para Urano e Netuno. A Voyager 1 não tinha mais nenhum planeta para visitar, mas ainda tinha muito o que explorar. Ela se tornou a primeira sonda a entrar na heliopausa, a fronteira entre o vento solar e o meio interestelar, em agosto de 2012. Isso significa que ela saiu da influência do Sol e entrou em uma região desconhecida, onde as partículas e os campos magnéticos vêm de outras estrelas.
Um sinal de socorro.
A Voyager 1 continua enviando dados para a Terra, mesmo estando tão longe. Ela usa uma antena parabólica de alta potência e um transmissor de rádio que opera na frequência de 8,4 GHz, equivalente a um celular de 23 watts. Ela se comunica com as antenas da Rede de Espaço Profundo da NASA, que estão espalhadas pelo mundo. Mas a distância é tão grande que leva quase 21 horas para que um sinal enviado pela sonda chegue à Terra, e mais 21 horas para que uma resposta seja recebida. Apesar das dificuldades, a Voyager 1 tem sido uma fonte valiosa de informações sobre o espaço interestelar. Ela mede a temperatura, a pressão, a densidade, a velocidade e a direção das partículas e dos campos magnéticos que encontra pelo caminho. Ela também registra os sons do espaço, como os chamados “sons do silvo”, que são ondas de choque causadas por explosões solares. Mas em dezembro de 2023, a sonda começou a enviar dados bizarros para a Terra. Ela repetia um padrão de uns e zeros, como se estivesse presa. A NASA descobriu que o problema estava em um dos três computadores a bordo da sonda, o sistema de dados de voo (FDS), que não estava se comunicando adequadamente com a unidade de telecomunicações (TMU). O FDS é responsável por compilar as leituras dos instrumentos científicos e do estado de saúde da sonda em um único pacote de dados. A TMU é responsável por enviar esses dados à Terra com um sinal de código binário. A NASA tentou reiniciar o FDS e devolvê-lo ao estado em que estava antes do problema começar, mas a Voyager 1 continuou enviando dados sem sentido. A agência espacial admitiu que levará semanas para elaborar um novo plano de ação. A distância da sonda e a longevidade da missão tornam as coisas muito difíceis. A documentação da sonda foi escrita há décadas por engenheiros que não previram os problemas que surgiriam 50 anos depois.
Um legado de exploração.
A Voyager 1 é uma das sondas mais bem-sucedidas e duradouras da história da exploração espacial. Ela já viajou por mais de 43 anos e ainda tem energia para funcionar até 2025, quando seus geradores termoelétricos de radioisótopos (RTGs) não serão mais capazes de alimentar seus instrumentos. Ela já percorreu mais de 150 vezes a distância entre a Terra e o Sol e está a caminho da estrela Gliese 445, que ela encontrará daqui a 40 mil anos. Mas a Voyager 1 não está sozinha nessa aventura. Ela carrega consigo um disco de ouro que contém sons, imagens e mensagens da humanidade, como uma cápsula do tempo cósmica. O disco foi idealizado pelo astrônomo Carl Sagan, que selecionou os conteúdos com a ajuda de uma equipe de cientistas, artistas e escritores. O disco tem 30 centímetros de diâmetro e pode ser reproduzido por qualquer civilização extraterrestre que tenha acesso a um toca-discos e a um manual de instruções que acompanha o disco. O disco de ouro da Voyager 1 é uma forma de dizer ao universo que nós existimos, que somos curiosos e que queremos compartilhar nossa cultura e nossa ciência. É uma forma de preservar um pouco da nossa história e da nossa diversidade, mesmo que a sonda se perca no espaço ou que a humanidade desapareça. É uma forma de expressar nossa esperança e nossa vontade de fazer contato com outras formas de vida. É uma forma de mostrar que somos, nas palavras de Sagan, “uma espécie de viajantes das estrelas”.